HELVETICA A FONTE QUE ESTÁ EM TODO LUGAR VAI GANHAR ROUPA NOVA


HELVETICA A FONTE QUE ESTÁ EM TODO LUGAR VAI GANHAR ROUPA NOVA

Você sabe o que o Metrô de São Paulo, o açúcar União, o Itaú e o McDonald's têm em comum? Todos são representados por logomarcas feitas com a fonte Helvética. Sessentona, a letra de origem suíça que se tornou onipresente ao longo do século 20 acabou de ganhar um banho de loja para se adequar a demandas modernas.

Mas esse é um novo capítulo de uma história que vale a pena contar do começo.

A Helvética foi criada em 1957 por uma empresa chamada Fundição Hass. Na época, a Suíça era a meca da tipografia – a área do design que se ocupa de desenhar as diferentes formas pela qual representamos as letras. Ainda na ressaca da Segunda Guerra Mundial e sob influência do movimento modernista, a tendência eram traços sóbrios e neutros, que poderiam ser utilizados em diversas situações diferentes.

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Metrô de Nova York usa a fonte em sua sinalização

Com ajuda de Edüard Hoffmann, o dono da Hass, o designer Max Miedinger seguiu esses princípios para criar a Neue Haas Grotesk. Mas o nome, é claro, não era nada simpático. Então quando a fonte passou a ser explorada comercialmente em outros países, foi preciso rebatizá-la.

Heinz Eul, gerente de vendas da fundição alemã Stempel, que produziria as matrizes da fonte que seriam usadas em escala industrial, sugeriu Helvetia – o latim para Suíça. Mas Hoffmann estranhou a ideia de chamar uma letra com o nome do país e decidiu fazer uma leve adaptação. Ficou Helvetica, ou suíço em latim. (No português, com direito ao temperinho do acento.)

Até aí, casos semelhantes devem ter acontecido aos montes na história do design. Mas a Helvética estava destinada ao sucesso. Já na década de 60, a fonte tomou de assalto placas e letreiros de comunicações, assim como virou a escolha preferida para criar identidades visuais tanto por governos ao redor do mundo, quanto pela iniciativa privada.

No documentário Helvetica, lançado no cinquentenário em 2007, fica claro como ela também influenciou uma mudança na forma de fazer publicidade. No lugar de anúncios espalhafatosos, com frases melosas feitas de fontes variadas e sem coesão, que imperavam até a década de 50, surgiram propagandas sérias, objetivas, quase blasé.

Ela virou a fonte do minimalismo.

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A Helvetica Now foi pensada para as telas dos celulares
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Do amor ao ódio

Da mesma forma, as características da letra encontraram uma alma gêmea nos logos de grandes corporações. Na segunda metade do século 20, Helvética foi a fonte com a qual o capitalismo escreveu sua história. E se por um lado essa onipresença era motivo de elogios, por outro encontrou oponentes.

"As pessoas usam a Helvética porque ela é ubíqua. É como ir ao McDonald's ao invés de pensar em escolher um restaurante" – Erik Spiekermann, tipógrafo alemão em depoimento ao filme de 2007

Também presente no documentário, a designer americana Paula Scher vai além. Para ela, a Helvética era a fonte do fascismo, a fonte da Guerra do Vietnã.

Convidada a desenhar a capa de um anuário sobre o design dos Estados Unidos em 1990, Scher decidiu fazer um mapa do país e colocar a porcentagem das pessoas que usavam Helvética em cada estado. Essa informação, é óbvio, nunca existiu. Ela criou números aleatórios, com uma única condição: só eram superiores a 50% nas regiões onde o presidente republicano [o partido conservador americano] Ronald Reagan havia ganho nas eleições anteriores.

Perguntada pelo diretor Gary Hustwit sobre qual seria a fonte da Guerra do Iraque, no auge durante as gravações do filme, ela não pensou duas vezes: "Helvética".

Apple x Microsoft

É bem provável que esse papo soe familiar. Afinal, quem nunca brincou de escolher umas fontes diferentonas nos trabalhos de escolas – se rolou Comic Sans, então, é melhor até esquecer esse passado.

Mas décadas atrás, tipografia era um assunto desconhecido do público em geral. Foram os computadores pessoais que mudaram esse cenário, ainda na época em que a principal função das letras era escrever códigos de programação.

E adivinhe só qual era uma das fontes que vinha pré-instalada nas máquinas da Apple, já uma das líderes do mercado de computação na virada dos 70 para os 80. A Helvética.

Na corrida pelo lado de fora, a Microsoft precisava de uma opção semelhante para o Windows, mas não estava disposta a pagar a taxa de licenciamento para utilizar a letra. A solução foi utilizar outra fonte que a depender do interlocutor varia de muito inspirada até cópia descarada da Helvética. O nome dessa você conhece com certeza: Arial.

Como o Windows tornou-se o mais popular entre os dois sistemas, a Arial ganhou fama junto.

Hoje, é provável que alguém sem preocupação com a fonte escreva em Arial (foi o caso da primeira versão desse texto que você lê). Mas entre designers que encaram a letra com um função maior do que só traduzir as palavras, é a Helvética que ainda tem um lugar especial.

Banho de loja

No entanto, a evolução da tecnologia que aproximou o mundo da tipografia para os leigos está cobrando o preço para a Helvética. Uma das suas características principais, uma grande proximidade entre cada letra dentro de uma palavra, é incompatível com as pequenas telas dos celulares. Os textos ficam um bololô só.

Por conta disso, a Monotype, atual dona da fonte, passou dois anos criando uma nova versão chamada Helvetica Now.

"Helvetica Now resolve as deficiências de espaçamento e legibilidade que já vem de décadas", disse Charles Nix, diretor de tipos da empresa, em entrevista à Fast Company.

De roupinha nova, a Helvética se prepara o futuro. Resta saber se esse banho de loja não levou o charme dela junto.

Fonte: UOL

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