ESTUDO RECENTE SOBRE A AMAZÔNIA
Estudo recente sobre a Amazônia
O estudo elaborado pela Fiesp revelou que queimadas e desmatamento têm dinâmicas distintas; mostrou que metade da vegetação nativa está em áreas protegidas e que o Brasil cumpre todos os acordos sobre o clima em vigor.
Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp
Com o objetivo de qualificar a informação sobre a Amazônia e integrar o debate público, a Fiesp criou um Comitê Extraordinário, que resultou no estudo Amazônia, você precisa saber, baseada em dados públicos oficiais e de diversas fontes primárias de informação, como institutos de pesquisas e governamentais.
Esse estudo foi apresentado na segunda-feira (2/9), por Paulo Skaf, presidente da Fiesp e do Ciesp, para mais de 40 CEOs e executivos de grandes grupos europeus com negócios no Brasil e grupos brasileiros com negócios na Europa.
“É preciso mostrar como é a realidade e oferecer dados aos empresários. O verdadeiro incêndio não é o das queimadas, é da imagem do Brasil lá fora”, disse Skaf. “Não é esta a realidade. O Brasil cumpre todos os acordos internacionais e já nos antecipamos em alguns deles, ao de Copenhague, por exemplo. A Amazônia é monitorada há 17 anos e há 43 mil militares apagando focos na região.” Segundo ele, o objetivo é que esses grandes grupos transmitam essas informações para suas matrizes, levando informações corretas para o exterior. “O Brasil tem o maior ativo ambiental e a maior floresta tropical restante do planeta”, afirmou Skaf.
Para o presidente da Fiesp/Ciesp, há países que se incomodaram com o acordo Mercosul-União Europeia – um acordo que vem sendo negociado há vinte anos – e misturaram as coisas. “Não é justo desqualificarem o país. O Brasil merece respeito. Nenhum país tem reservas como as nossas. Da maneira como foram divulgados os dados, arranha-se a imagem do Brasil, o que é ruim para a nação brasileira, para a economia, para a indústria automobilística e do calçado, para o agronegócio. Quando se compra um produto, a imagem do país vem em primeiro lugar”, explicou.
A Amazônia Legal inclui nove Estados brasileiros (Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão) e três biomas (Amazônia e partes do Cerrado e do Pantanal), ocupando 61% do território nacional (5,2 milhões de km2). E a área onde se encontra a Floresta Amazônica constitui 49% do Brasil (4,2 milhões de km2), sendo que 84% do bioma amazônia estão recobertos com vegetação nativa, segundo a Embrapa Territorial, o que equivale a uma área superior a de 15 países europeus reunidos.
Nesses 49% se encontram unidades de conservação (UCs), áreas indígenas e militares, intocáveis, portanto. Na outra metade, 25% se encontram em áreas não cadastradas e 26% estão em propriedades privadas, sendo que essas propriedades tem por obrigação preservar 80% de sua área, conforme estabelece o Código Florestal, considerado um dos mais avançados do mundo.
O trabalho elaborado pela Fiesp mostrou que as queimadas e o desmatamento têm dinâmicas distintas. As queimadas são históricas e apresentam picos em função do regime de chuvas e do clima e podem estar associadas tanto a causas naturais – agosto é o mês mais seco – como humanas, o manejo, por exemplo. Elas ocorrem no bioma cerrado e muito pouco no bioma amazônia por conta da umidade da mata, e ainda são registradas em ambientes de transição e áreas já abertas. É importante lembrar que o bioma amazônia não é homogêneo e contém áreas de cerrado. O desmatamento apresenta queda relevante ao longo dos últimos 15 anos e, nesse período, houve anos com mais focos de queimadas e outros com menos, ou seja, não é possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito.
A conclusão do estudo indica que embora o desmatamento esteja dentro da média histórica dos últimos 20 anos, e um pouco acima da média dos últimos 10 anos, a meta pactuada no Acordo de Copenhague [em 2009] para 2020 deve ser cumprida, além de se somar a um esforço adicional. A meta estabelecida de redução de 80% [ano-base 2004] se encontra no patamar de 73%. Quanto às emissões de CO2, há a obrigatoriedade de redução na casa de 1,24 gigatonelada e já foram contabilizadas 2,28 gigas, quase o dobro, portanto. Em relação ao Acordo de Paris, os índices são promissores e alguns deles foram ultrapassados, sendo que o Brasil tem uma matriz energética que conta com 45% de fontes renováveis, a mais limpa e diversificada do planeta, enquanto o mundo contabiliza 14% e os países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 10%. O Brasil também é líder global em conservação de florestas tropicais.
Na reunião com os executivos, os empresários elogiaram a qualidade do trabalho e a transparência da pesquisa que também tratou do marco legal e da tecnologia para monitoramento do país. A Fiesp reiterou que o desmatamento ilegal deve ser coibido com políticas públicas sustentáveis voltadas, inclusive, para os 29 milhões de habitantes que se encontram na Amazônia Legal, que são 14% da população do país. Ou seja, precisa haver harmonia entre a floresta, a atividade econômica e o bem-estar das famílias.
Em reunião com mais de 40 CEOs e executivos de grandes grupos europeus com negócios no Brasil e grupos brasileiros com negócios na Europa foi apresentada a pesquisa Amazônia, você precisa saber. Foto: Ayrton Vignola/Fiesp
Difusão de informações
Davide Marcovitch, presidente Latin America, Caribe e África do grupo LVMH, Louis Vuitton, afirmou, em relação ao estudo, que “é disto que o Brasil precisa para difundir o que é a realidade brasileira. Fico abismado ao ver pessoas que nunca pisaram na Amazônia darem o seu ‘palpite’ e não é nada disto. As queimadas sempre existiram e é prática cultural. O que precisa é coibir o desmatamento ilegal”, afirmou, informando que ele já viajou muito pela Amazônia. Como ação prática, Marcovitch mantém atualizada a matriz da sua empresa e se reuniu recentemente com a Câmara de Comércio Brasil-França. Para ele, os empresários devem fazer isto, conversar com suas matrizes, e não crê que quem conhece o Brasil deixará de investir por conta do desencontro de informações.
Por videoconferência, participou Evaristo de Miranda, chefe geral da Embrapa Territorial, atento aos dados de uso e ocupação de solo. Miranda demonstrou como interpretar as imagens captadas por satélite, apontando as áreas florestais e as de desmatamento. Ele lembrou que há 28 tipos diferentes de floresta na Amazônia, onde se encontram extrativistas, pecuaristas e agricultores, portanto, “há o desafio de se cuidar da floresta e da população que precisa de desenvolvimento econômico sustentável”.
Também por videoconferência, o major brigadeiro-do-ar José Hugo Volkmer, diretor geral do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), frisou que o Centro de Proteção à Amazônia inclui as bases de Porto Velho, Manaus e Belém. O Centro se compõe de radares meteorológicos, 500 equipamentos de comunicação para transmissão de dados e conta com 200 colaboradores que realizam um trabalho sistêmico. Este trabalho incluiu inteligência (no combate a garimpos, tráfico de drogas e pistas clandestinas); informações ambientais (para o Ibama e ICMBIo); e o monitoramento de focos de calor. “Somos os únicos que têm informação meteorológica regional, incluindo os rios e suas vazões”, explicou, “e o que temos aqui é normal para esta fase” [do ano].
O secretário Nacional de Segurança Pública, vinculado ao Ministério da Justiça, Guilherme Theophilo, citou outros pontos de preocupação na região: o garimpo ilegal, o contrabando de animais silvestres, o 3º maior rendimento do crime organizado [só superado pelo tráfico de drogas e armas]; e a presença de búfalos em Rondônia, que se proliferam muito rapidamente, e que provocam o desmatamento onde urinam e por onde passam.
Artigo original: FIESP