AS NOVAS ECONOMIAS E A GRÁFICA – PARTICIPAMOS OU ASSISTIMOS


AS NOVAS ECONOMIAS E A GRÁFICA – PARTICIPAMOS OU ASSISTIMOS

Em 2019, a Volkswagem e a Amazon Web Service  (AWS) anunciaram um acordo plurianual para a construção de uma plataforma digital de produção digital, chamada de VW Industrial Cloud para conectar e gerenciar a plantas da montadora alemã e toda sua rede de fornecimento.

 A nova plataforma, segundo a notícia divulgada no site Business Insider, integrará os dados de mais de 30.000 instalações, incluindo as 122 fábricas e 1.500 parceiros de sua cadeia de suprimentos. O objetivo é usar a computação nas nuvens da AWS e os serviços de Internet das Coisas (ioT) para aumentar a eficiência das fábricas, melhorar a flexibilidade de produção e incrementar a qualidade dos veículos.

Um autêntico exemplo de aplicação das chamadas tecnologias habilitadoras da indústria 4.0 que passam pela integração de sistemas, robotização, IoT, computação nas nuvens, entre outras. Algo que vem sendo maciçamente difundido nos últimos anos e que começamos a ver na prática seu desenvolvimento.

As plataformas digitais, por definição, são aplicações tecnológicas que permitem a integração entre diversos participantes, juntando interesses e pessoas. É a criação de um ambiente onde compradores e vendedores, ou usuários e fornecedores de serviço interagem e completam transações. É como opera o Uber, o Airbnb e todas a principais empresas de tecnologia. É o chamado modelo de plataformas, ou a Economia de Plataforma. Modelo onde operam a Apple, o Google, a Amazon e tantas outras. E na qual já estamos inseridos no nosso dia a dia através dos serviços que ordenamos via digital.

Com todo o processo de transformação digital que gradualmente vão passar (imagina-se) ou já estão passando as empresas, a participação em plataformas será cada vez mais uma realidade nos seus sistemas operacionais e de comercialização. Alias, bem além disso. Ela ultrapassa a questão da comunicação e de vendas e entra na interação na construção e fabricação de produtos e da prestação de serviços.

As plataformas digitais também vêm permitindo o desenvolvimento do que se convencionou chamar de Economia Compartilhada. Por definição um sistema econômico baseado na troca, reutilização, compartilhamento e acesso a produtos, serviços e conhecimento. É um compartilhamento de recursos humanos, físicos ou mesmo intelectuais. E que também geram novos negócios, como o Waze que usa dados e alertas de tráfego compartilhados pelos usuários. Outra forma é o desenvolvimento de marketplaces, onde pessoas e empresas podem compartilhar produtos e serviços dentro de interesses comuns.

Outro modelo econômico que vem crescendo exponencialmente é a chamada Economia de Assinatura. É a contratação por meio de assinatura mensal, semestral ou anual de serviços e produtos. É como pertencer a um clube. Clube do vinho, clube de filmes ou conteúdos como o Netflix ou o Globoplay, clubes de comida, de meias e cuecas…de tudo enfim.

Enfim, há hoje toda uma nova disposição econômica baseada em novos modelos de negócio, em geral proporcionados pelas crescentes aplicações digitais, que vem gerando novos mercados, novos negócios e novas possibilidades de crescimento.

É, sem dúvida, um novo mundo que se abre para quase todos os setores econômicos.

Sendo assim, onde nosso setor pode tirar ou está tirando proveito disso? Será mesmo que o mundo gráfico se enquadra nesses novos conceitos e aplicações? Um setor tradicional e, que, segundo muitos digitólogos, fadado a desaparecer frente ao mundo digital?

Pois bem, eu não tenho dúvidas que tirará proveito sim.  Mais do que podemos, devemos incorporar esses novos conceitos aos nossos negócios. E o mais urgente possível. Como diversas empresas gráficas ou seus fornecedores já estão fazendo. Entrando no bojo do processo de transformação digital que, obrigatoriamente, todos terão que passar. Ou não sobreviverão.

Começo com a questão das plataformas. Primeiro, não há possibilidade de atendermos as novas demandas de mercado sem estar atrelado a alguma plataforma operacional. .

Claro, ainda há muitas empresas na base da planilha excel ou até menos do que isso. Mas falo de uma demanda que é cada vez mais exigente em termos de prazos curtos e soluções imediatas, buscando o melhor custo benefício (o que para muitos representa o menor preço). E para atender a isso a resposta deve ser dada na hora. O que já acontece com que tem ofertas digitais via web-to-print, por exemplo.

Para se preparar para esse básico a empresa tem que cumprir o que chamo de fundamentos. Ou seja, ter um sistema de custos, um sistema de orçamento e uma base de planejamento e controle de produção. Além de um sistema de qualidade que corresponda ao exigido e nas possíveis repetições do trabalho. A junção disso é um sistema operacional digitalizado que mantenha a base da operação sob controle. Um ERP. (entreprise resource planning)

Junta-se a isso a questão de gestão do processo onde o PCP e os controles de produção sejam interligados gerando relatórios de produtividade e utilização de material. Na terceira parte integra-se um sistema de controle de estoques, emissão de notas fiscais e controles de contas a pagar e a receber. Enfim, nada muito além do que a maioria já sabe e já opera.

A questão começa quando se desenvolvem serviços adicionais aos clientes e que exigem outras plataformas que oferecem e gerenciam esses serviços. Sejam serviços de facilitação de compras, como no citado web-to-print, tanto na modalidade B2C (aberto ao mercado alvo) quanto, e especialmente, nos modelos de B2B com sites fechados para os clientes via contrato onde este pode especificar o trabalho, personalizar e acompanhar a produção.

Além disso há empresas que desenvolvem plataformas para uso do cliente, como a Visto da Arizona que permite aos executivos de marketing dos clientes gerenciarem suas campanhas e acompanharem resultados. Ou a da More Vang, dos Estados Unidos que permite aso clientes criarem suas campanhas online e impressas diretamente em sua plataforma.

Essa integração com os clientes é outo caminho que se ampliará, tendendo ao infinito. Os próprios ERPs com a incorporação de Inteligência Artificial já começam a se comunicar com eles e obter sua satisfação ou não sobre o trabalho realizado e até mesmo contatar seus fornecedores de papel e colocar um pedido.  O sistema Twist, feito no Chile, já faz isso. A cada trabalho um email é enviado ao cliente. Se sua resposta é positiva um emoji de uma carinha sorrindo acompanha os próximos trabalhos desse cliente em todas as etapas da produção. Caso o cliente tenha reclamações, um emoji com uma carinha de mau humor segue junto com os trabalhos. Ao se clicar nela vê-se o que aconteceu com o cliente e suas reclamações, para que os operadores possam tomar providências já no trabalho seguinte.

Essa interação interna-externa será cada vez mais comum e ditará o comportamento da produção – e da gráfica – face as demandas dos clientes.

No mesmo sentido a plataforma, a partir da ordem serviço, checa o estoque e, caso necessite, já emite uma ordem de compra do material, de acordo com contratos previamente estabelecidos. Pois é.

Já nas aplicações possibilitadas pelo que descrevemos da economia compartilhada, há caminhos que podem possibilitar bons negócios na utilização ou mesmo na oferta de marketplaces. Uma imensa loja virtual que reúne ofertantes que compartilham seus produtos e serviços a consumidores e usuários. Tome-se o caso da ELO7 um marketplece de extremo sucesso que proporciona ofertas a quem procura artigos de decoração, festas, casamentos, artesanatos e coisas afins. Dezenas de impressores participam oferecendo produtos como convites, material de festa infantil, material de decoração e por aí vai.

A oportunidades na criação de marktplaces, o que é claro, algo mais difícil, mas que está em gestação em algumas empresas gráficas que buscam criar um ambiente que reúna diversos interessados em um tema como celebrações, por exemplo. Além das ofertas específicas da gráfica, há a possibilidade de se ter ofertas de parceiros coadjuvantes com bufês, músicos, designers, decoradores e um mundo de outras coisas. Uma espécie de ELO7 mais focado. Mais não posso dizer.

Citei também acima o crescimento da chamada economia de assinatura. Também chamada de economia associativa. Nos Estados Unidos de subscribe ou mesmo subscription. Os termos ainda estão se formando, mas ela já se mostra poderosa como modelo de negócios.

Primeiro vamos ver o seguinte. Há todo um movimento econômico vindo de empresas industriais na busca da transformação de produtos em serviços. Ou, explicando melhor, na geração de serviços as clientes a partir da base de produtos das empresas. Há, pode-se dizer, uma concorrência cada vez maior em cada tipo de produto. Basta ver os diferentes modelos de automóveis por categoria ou as inúmeras variedades de pães de forma, para ficar em algo mais trivial.

Agregar serviços aos produtos implica ampliar a relação com os clientes, aumentar as chances de faturamento ao se agregar funções que representam custos aos clientes ou mesmo criar novas capacitações que fidelizem os clientes aos produtos oferecidos.

É o caminho que gigantes mundiais fizeram e estão fazendo. A IBM é um exemplo típico. De produtora de mainframes e computadores pessoais para uma gigante de serviços e inteligência, como o Watson.

Quem acompanha meus artigos já sabe que falo disso há anos.

Pois bem. Ao se transformarem em serviços, a sua distribuição pode-se dar em diferentes formas, distintas das vendas originais que exigem a transferência de posse e grandes estruturas comerciais.

Com a transformação digital em curso, muitos desses serviços podem ser compartilhados e divididos em um maior número de clientes que passam a pagar valores acessíveis e de mais fácil aceitação, suprindo suas necessidades e oferecendo experiências e utilidades. Como na oferta que a Amazon faz para seus sócios prime.

No caso do setor gráfico vemos o crescimento desse modelo já há algum tempo, principalmente vindo dos fornecedores do setor. Já era um modelo adotado pelos fabricantes de impressoras digitais, seja nos contratos de aluguéis a grandes empresas, seja nas impressoras digitais colocadas em linhas de produção gráficas.

No entanto o caso mais emblemático, nesse sentido, é o da Heidelberg que passou a ofertar, desde o ano passado, sua offsets cobrando por folha impressa, não pela transmissão de posse do equipamento.

Calcada em uma forte prestação de serviço através de consultorias que determinam os níveis de produtividade que a gráfica pode alcançar com a otimização do processo e a automação da produção. Com base nisso o pagamento por folha impressa passa a ser um ganho em relação a produtividade alcançada.

Os sistemas operacionais em grande parte já são oferecidos de forma digital, nas nuvens. Não há mais necessidade da gráfica ter seus próprios servidores para acolherem esses softwares com antes. Em função disso as instalações se tornaram mais baratas e os serviços são cobrados em valores mensais.

Todos os softwares SaaS (software as a service) usam esse modelo. São as instalações de web-to-print, por exemplo.

Na outra ponta começam a surgir ofertas de produtos impressos que usam esse modelo. Na área editorial há alguns casos de sucesso que merecem ser mecionados.

É caso da TAG Editorial. É um clube de livros que tem uma curadoria especial. Um autor renomado faz a escolha do livro do mês que é uma surpresa para que vai recebe-lo. Fora isso o embalamento e todo o material que compõem o pacote que chega nas mãos do cliente é especial, atrativo e que aumenta sua experiência positiva. As tiragens dos livros mensais passam dos 60.000. Muito acima dos livros comuns que mal chegam a 1.000 exemplares vendidos.

Na área infantil a Leiturinha também segue esse modelo. Em função da faixa de idade da criança, um livro é entregue mensalmente. Um sucesso.

Pois bem. As novas economias vão surgindo no bojo da transformação digital. São novos modelos de negócio que propiciam ampliações de mercado e a construção de novas ofertas que encantam os clientes que nunca foram tão exigentes como agora.

São modelos que estão a disposição de empresas gráficas que sabem mover-se além do tradicional e que buscam alternativas que aumentem o valor agregado aos seus clientes e as coloquem adiante, muito adiante, da simples reprodução de originais, seu negócio básico.

Que tal conhecer esses novos modelos e começar a participar dessas novas economias? Ou ficar assistindo concorrentes seus prosperarem sem se entender exatamente o porquê.

 

Fonte:http://www.anconsulting.com.br/pt-br/component/k2/item/129

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